Mais do que um destino de paisagens deslumbrantes, a Madeira é um festim de sabores autênticos, onde cada prato conta uma história feita de mar, montanha e tradição.
A gastronomia da Madeira usufrui do raro privilégio de se basear num conjunto de produtos regionais frescos, com uma qualidade de excelência. Além disso, constitui um património cultural de inestimável valor, com receitas tradicionais apuradas ao longo de vários séculos.
O clima subtropical do arquipélago, bem como os seus férteis solos vulcânicos, oferecem à gastronomia da Madeira sabores genuínos e inconfundíveis. De igual forma, a imensa riqueza dos mares límpidos desta região fornece ingredientes com padrões de qualidade soberbos.
O receituário tradicional madeirense conta com um sem-número de iguarias com séculos de apuramento, aproveitando a excelência dos produtos regionais.
Visitar o arquipélago da Madeira é muito mais do que uma experiência de contemplação. Conhecer as ilhas é, para além de visitar lugares de inegável espetacularidade, mergulhar na cultura gastronómica que tem nas mãos do povo a principal razão para o seu sabor incomparável. Em qualquer restaurante que se dedique à gastronomia tradicional da Madeira, somos brindados com o toque do sabor caseiro em tudo aquilo que petiscamos e a razão para tal é o facto da cozinha tradicional trazer, no seu legado, a componente da simplicidade, da partilha e da alma madeirense. Saborear a comida tradicional da Madeira é, por isso, tanto uma experiência sensorial incrível, como também uma das melhores formas de conhecer, verdadeiramente, a cultura madeirense.

A autenticidade das iguarias da Madeira
O segredo de algumas das mais conhecidas iguarias madeirenses é, justamente, não ter segredo. Com a simplicidade de quem, durante séculos viveu com recursos limitados, os madeirenses celebrizaram pratos que primam pelo genuíno e fresco sabor, sem grandes distrações. Falemos, por exemplo, da típica espetada regional. A carne de vaca, cortada em pedaços e temperada com sal grosso, é “espetada” em pau de loureiro – árvore abundante na Madeira – e assada no lume. E o que será melhor para acompanhar esta tenra e suculenta carne? Milho frito. Estes cubos de farinha de milho e couve picada são, também, uma expressão da gastronomia tradicional da Madeira e que, em boa verdade, acompanham, deliciosamente, tanto carne como peixe.

E por falar em peixe… o peixe-espada preto é um dos pilares da gastronomia tradicional da Madeira. Cozinhado de um sem-número de maneiras, tem no filete, dourado com farinha e ovo, a expressão máxima do seu regionalismo. Do peixe para o marisco, porque não podemos ignorar a entrada preferida de quem nos visita: lapas grelhadas. Chegam à mesa a fumegar, aguçando o apetite. O tempero? Um pouco de manteiga e sumo de limão.

Os molhos criados a partir dos nossos vinhos
Se, por um lado, a base da gastronomia tradicional madeirense reside na simplicidade, por outro, não é menos verdade que, muitas vezes, o tempero é a nota surpresa. No arquipélago da Madeira, a base da gastronomia regional combina, então, os sabores de origem e apura-os com o melhor dos temperos.
O atum é um peixe abundante na nossa costa. A nossa especialidade? O bife de atum com molho vilão. Este delicioso prato tem no molho, feito à base de vinho branco, vinagre, cebola e segurelha, o carimbo de ex-libris gastronómico regional. Um molho que pode ser, também, usado nas cavalas – outro peixe muito comum nos mares do arquipélago.

O vinho e o vinagre são, de resto, dois ingredientes que, na Madeira, convidam todos a uma viagem de paladares. Um dos outros regalos da gastronomia tradicional madeirense é a carne vinho e alhos. Esta iguaria, que pode ser consumida durante todo o ano, tem na época natalícia o expoente da sua confeção. Em casa, num restaurante ou nas típicas barracas de comida que adornam os mercados de Natal, distribuídos pela região, os saborosos bocados de carne podem ser servidos no prato ou num “papo-seco”.

A fechar este capítulo, também o famoso Vinho Madeira é chamado à cozinha. Muito solicitado na confeção de molhos feitos a partir da sua redução, o Vinho Madeira é um camaleão de sabores e texturas, emprestando as suas características, doces ou secas, à carne e ao peixe da região.

As deliciosas frutas da Madeira
“Um paraíso tropical” é uma expressão que vemos muitas vezes associada à Madeira e, de facto, a “tropicalidade” é uma característica que está presente no arquipélago, a vários níveis… No clima, na vegetação e, claro está, na nossa fruta.

Tudo na Madeira tem um sabor especial e a fruta não é exceção. A explicação não é poesia e tem que ver com as condições de temperatura e do solo. Viver o arquipélago na sua totalidade é comemorar a beleza das paisagens madeirenses, colhendo e saboreando as frutas que nesta terra têm cores vivas e sabor mais doce.

A banana da Madeira, plantada geralmente em terrenos próximos do mar e até aos 200m de altitude, é conhecida pela seu tamanho pequeno e sabor adocicado. Também as vinhas marcam profundamente a paisagem madeirense, para além de nos darem vários tipos de uva, todos famosos pela sua qualidade.

Já os mercados de fruta são chamativas pinturas das mais vívidas cores, de onde sobressaem frutas que ‘escolheram’ a Madeira para crescer. O maracujá-banana, o tomate inglês e a anona juntam-se nos cestos de fruta com as mais frescas tangerinas, as maçãs e os peros provenientes das zonas altas. Em altitude, crescem também limões, ameixas e nectarinas; no Porto Santo, a rainha é a melancia.

As bebidas da Madeira: O Vinho Madeira, a Poncha e a Nikita
No arquipélago da Madeira não faltam motivos para celebrar. O final de um dia de trabalho pode ser o pretexto para juntar colegas e amigos em soalheiras esplanadas ou acolhedores espaços. A gastronomia tradicional da Madeira estende-se, também, às bebidas, algumas delas com grande história.

A produção vinícola na Madeira é, desde o início da colonização do arquipélago, uma das forças motrizes, tanto da economia local como do reconhecimento do próprio destino além-fronteiras. O Vinho Madeira, inicialmente, mas também os distintos vinhos de mesa produzidos na região acompanham uma grande diversidade de pratos emblemáticos da gastronomia tradicional da Madeira e constituem os seus melhores aperitivos e digestivos.

A poncha, para além de ser um dos símbolos do arquipélago da Madeira, no capítulo das bebidas tradicionais, é considerada, entre os habitantes, como “remédio” para gripes e constipações. Na sua versão original – “a poncha regional” -, ou nas versões mais coloridas que fazem uso das frutas tropicais do nosso arquipélago, o certo é que dificilmente alguém é a mesma pessoa depois de duas ponchas.

Outras deliciosas bebidas alcoólicas que acompanham momentos felizes e contam com produtos de origem regional são as Nikitas. As melhores adicionam ao sumo de ananás e ao gelado de baunilha, a incrível e única cerveja regional. Como nem todos os brindes precisam de álcool, na Madeira, os refrigerantes também têm sabor especial. Como ignorar o surpreendente sabor da Brisa Maracujá e da Laranjada? Ah… e também existem Nikitas sem álcool!
Os doces típicos da Madeira
Este artigo não pode terminar sem que se aborde a doçaria típica da Região, e para isso, temos de falar novamente do “ouro branco”. A história da Madeira ficou marcada, desde cedo, pelo bem-sucedido cultivo da cana-de-açúcar. A abundância e qualidade da plantação era tal que, já ao longo do século XV, começam a exportar-se grandes quantidades de açúcar para a Europa Continental, África e Ásia. O “ouro branco” constituiu, então, nos séculos subsequentes, uma fonte de riqueza para a ilha.

Neste embalo, os madeirenses começaram a desenvolver uma tradição de fabrico de produtos e doces que, conjugados com algumas das mais exóticas frutas da região, resultaram em receitas vencedoras e que se perpetuaram até os dias de hoje, marcando, profundamente, a gastronomia tradicional da Madeira. O mel de cana sacarina, produto feito a partir da cana-de-açúcar da região, é um grande aliado da doçaria madeirense. Através dele, muitas receitas ganham um cariz muito próprio. O bolo de mel e as broas de mel serão, provavelmente, os mais conhecidos doces madeirenses.

A queijada da Madeira é, também, um dos ex-libris da doçaria. Feita com requeijão e ovos, é uma delícia de sabor e textura incomparáveis, ideal para um pequeno-almoço ou para um lanche.
No entanto, na maior parte dos restaurantes madeirenses, após a sua refeição, uma das sobremesas que mais lhe será apresentada como sugestão é o pudim de maracujá. Quase sempre caseiro e feito a partir de maracujás frescos, as pequenas e escuras sementes desta fruta fazem parte da apresentação desta sobremesa de cor amarelada. Mousse de anona e pudim de pitanga são outras doces delícias que beneficiam do exotismo das frutas regionais, constituindo uma saborosa maneira de terminar uma refeição sob a temática “comida tradicional da Madeira”.