APAVT revela que 80% do valor acrescentado bruto do setor é gerado pelos seus associados

A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que este ano comemora o seu 75 aniversário, vive “provavelmente o melhor momento da sua história”, segundo afirmou, esta manhã, aos jornalistas, em Lisboa, o seu presidente, Pedro Costa Ferreira.

A APAVT atravessa uma “situação financeira sólida e estável”, o que garante uma “grande independência” em relação a todos, e está a viver uma fase de “capacidade de interação nunca vista”, com boas relações com todos os parceiros do setor. A associação tem uma presença destacada na Confederação Europeia e na Confederação do Turismo Português, representando mais de mil balcões e atingindo um número recorde de sedes desde o primeiro registo, em 2002. “Não estamos apenas a viver o nosso melhor momento em termos de representação das agências de viagens, mas também com uma dinâmica constante, como ficou claro na última reunião da direção, em que entraram 10 novas agências”, explicou o dirigente associativo.

Pedro Costa Ferreira destacou ainda que “este é também um momento de liderança” e recorreu a um estudo da EY, encomendado pela APAVT, para mostrar a força da associação no setor da distribuição. O estudo revelou que mais de 80% do valor acrescentado bruto do setor é gerado por agências associadas à APAVT. A remuneração média das agências associadas é de 21 mil euros, mais do que os 19 mil euros do setor em geral e os 15 mil euros das não associadas. Desta forma, “as agências associadas da APAVT pagam, em média, 10% mais do que o setor em geral e 40% mais do que as não associadas”, disse.

Quanto aos resultados líquidos médios, as agências associadas da APAVT apresentam um lucro médio de 108 mil euros, enquanto a média do setor fica pelos 60 mil euros e as não associadas chegam aos 25 mil euros. No que diz respeito à capacidade de gerar valor, as associadas da APAVT estão 96% acima da média do setor e 369% à frente das não associadas. “Em termos de capacidade para criar valor, as associadas estão claramente à frente”, afirmou Pedro Costa Ferreira. E acrescentou: “Criar valor e ser rentável é fundamental. Não é por acaso que pagamos melhor, é porque também somos melhores a construir.”

As comemorações dos 75 anos da APAVT, que acontecerão ao longo de 2025, coincidem com um momento muito positivo para o setor, segundo o estudo da EY. Em 2022, a distribuição turística em Portugal gerou 5,8 mil milhões de euros, o que corresponde a 2,4% do PIB ou 2,8% do valor acrescentado bruto nacional. O setor também é responsável por 126 mil empregos, ou seja, 2,6% do total nacional, e por 3,9 mil milhões em salários, que representam 2,8% do total nacional. “São números impressionantes, mas ainda mais significativos quando comparados com 2019, quando o valor económico da distribuição turística era de 4,5 mil milhões de euros, o que representava 2,3% do PIB”, disse Pedro Costa Ferreira, sublinhando que o setor mostrou uma grande resiliência após a pandemia. Em 2022, o valor representou 2,4% do PIB e o valor acrescentado no PIB aumentou de 2,5% para 2,8%, apesar das dificuldades geradas pela crise.

“As ambições da APAVT [para os próximos anos] são simples, e têm sido as mesmas ao longo dos 75 anos: defender os interesses do setor.” Ele explicou que a agenda desses interesses é bastante ampla, mas que a APAVT vai continuar a trabalhar em três áreas principais: a defesa dos agentes de viagens, o turismo em Portugal e o turismo internacional.

Pedro Costa Ferreira também destacou que as agências de viagens estão a operar num mercado em constante mudança. “Há 75 anos, as agências eram essenciais. Hoje, depois de várias transformações no modelo de negócio, a competitividade está presente ao longo de toda a cadeia de valor, na tentativa de conquistar o cliente”, explicou. O principal desafio, para o presidente, é “criar valor”, algo que só pode ser medido pelos números. “Quem não cria valor acaba por desaparecer do mercado”, alertou. “O que sabemos, com base nos números, é que o setor continua a criar valor.”

Sobre os diferentes modelos de negócio, Pedro Costa Ferreira afirmou que estes variam, podendo focar-se em preço, dimensão, produtos específicos ou segmentos de mercado. No entanto, sublinhou, “o que é comum a todos os modelos de negócio são os recursos humanos”, que são altamente qualificados, não apenas no turismo, mas também na economia nacional. Quanto à adaptação às novas tecnologias, o presidente afirmou que, apesar de muitas agências serem microempresas, já utilizam tecnologia há bastante tempo, nomeadamente através dos sistemas de reservas. “Não tenho grandes preocupações com a tecnologia, as agências têm-se adaptado bem”, disse. Contudo, reconheceu que a inovação representa um desafio, uma vez que exige grande capacidade financeira, algo que nem todas as empresas do setor têm.

Em relação ao impacto da inteligência artificial, Costa Ferreira afirmou que o setor não pode “perder o comboio da inteligência artificial”. Embora existam dúvidas sobre o impacto que terá, ele defendeu que “quem já está a utilizar inteligência artificial vai sair à frente” e que, no último congresso, a APAVT já tinha começado a debater o tema. “Teremos certamente mais desenvolvimentos sobre inteligência artificial no nosso congresso de Macau”, afirmou.

Por fim, o presidente da APAVT reiterou que o foco no cliente nunca deve ser perdido. “Se as agências de viagens conseguiram adaptar-se a tantas inovações e mudanças ao longo dos anos, é porque nunca perderam de vista o cliente.”

Quando questionado sobre a guerra de campanhas e a rentabilidade das agências de viagens, Pedro Costa Ferreira não se mostrou preocupado, afirmando que isso faz parte da dinâmica do mercado. “O que estamos a ver é a interação natural do mercado. Fujo sempre de tentar voltar atrás em mudanças profundas nos modelos de negócios. Há muitos anos, o modelo de negócios exigia características como um capital social mínimo, um diretor técnico, entre outros requisitos. Isso foi mudado há décadas e foi substituído pela proteção ao cliente”, explicou. Em relação à discussão sobre comissões mínimas, o presidente considerou que é um “debate estéril”. “A solução está na competitividade do negócio. Não estou a minimizar os problemas, mas as soluções estão na forma como fazemos o negócio e como somos competitivos”, concluiu.

Aeroporto de Lisboa

Em relação ao impacto das obras no aeroporto de Lisboa e o possível atraso na construção de um novo aeroporto, Pedro Costa Ferreira mostrou-se pessimista. “O turismo em Portugal está muito dependente dos aeroportos devido à sua localização estratégica”, disse. Apesar de reconhecer as vantagens dessa localização, especialmente para atrair mercados da América do Norte, sublinhou as limitações: “Estamos muito dependentes dos aeroportos. Sou muito pouco otimista em relação às notícias sobre o novo aeroporto. Não foi tomada a decisão de fazer o novo aeroporto, mas sim a decisão de tentar fazê-lo.”

O presidente da APAVT expressou ainda a sua preocupação com o impacto das obras no aeroporto de Lisboa, destacando que “o que nos separa de recebermos melhor os turistas são as obras no aeroporto de Lisboa”. Para ele, é “absolutamente crucial” melhorar as condições de acolhimento. “Estamos a resolver algumas questões utilizando mais o aeroporto do Porto para mercados de longo curso, mas para mercados de curto curso é mais difícil deslocar turistas por três ou quatro horas dentro de Portugal para depois fazer um voo de uma hora”.

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