Pedro Costa Ferreira anunciou que iniciou esta quinta-feira, dia 11 de janeiro, o seu último mandato à frente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, num discurso proferido durante a tomada de posse dos novos corpos sociais para o triénio 2024-2026, que decorreu em Lisboa.
“Por que quinze anos serão suficientes, do ponto de vista pessoal? Claro que sim. Mas também e sobretudo, porque a manutenção da liderança associativa que a APAVT protagoniza, exige ela própria regeneração, mudança, nova visão”, referiu o dirigente associativo para justificar a decisão da sua saída em 2026.
“Terminamos hoje três anos que terão na história da APAVT um lugar especial”, começou por afirmar. “Não nos esquecemos que tomámos posse, há três anos, de máscara na cara, e apenas três ou quatro pessoas juntas, no momento da posse, com os restantes corpos sociais sentados e com uma distância de três metros entre cada pessoa (…) como não nos vamos esquecer de que terminamos o mandato representando um setor que terá atingido, este ano, o seu melhor resultado de sempre”, frisou.
Pedro Costa Ferreira relembrou os associados e convidados da crise de 2020/2021, classificando-a como “a maior crise das nossas vidas”, mas igualmente “o vigor, a proximidade e a efetividade de uma Secretária de Estado que nos ajudou a salvar o setor, a Rita Marques, bem como um Ministro da Economia que sempre teve tempo e disponibilidade para nos ouvir, e inteligência para nos ajudar, o Pedro Siza Vieira”.
Por outro lado, deixou presente que o Presidente da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros, foi também “mais um elemento da equipa, e esse é certamente o maior elogio que lhe podemos fazer, e um Turismo de Portugal que se agigantou e que provavelmente foi quem melhor e mais cedo entendeu que, se as empresas não sobrevivessem, o Turismo não sobreviveria”.
O responsável garante que esta direção da APAVT nunca deixará de “defender intransigentemente os interesses legítimos do setor”, mas também nunca deixarão de “dialogar com todos, com o objetivo concreto de conciliar e consensualizar”. Desta forma, “sem cedência absolutamente nenhuma, a nossa independência, construída em 74 anos de história e consolidada na última década por uma posição financeira inatacável”, disse.
“Ninguém nos pode comprar, somos uma associação que não está à venda”
“Ninguém nos pode comprar, somos uma associação que nunca vai estar à venda, nem no palco, nem atrás da cortina, e bem sabemos que uma boa dose do respeito que têm por nós se deve a esse facto. Tenho uma boa notícia para todos: Vai continuar a ser assim!”, garantiu.
Pedro Costa Ferreira afirmou que vão “continuar a defender os interesses do setor e dos associados, onde e quando se justificar. E sim, quem já viveu a pandemia sabe que a agenda nunca está fechada e muito menos totalmente identificada. Mas claro que existirão, inevitavelmente, temas que já sabemos nos irão acompanhar nos próximos tempos”.
O primeiro que identificou foi a nova diretiva europeia sobre viagens organizadas. “Não estamos, quanto a este dossier, pessimistas”, disse, acrescentando que “a procissão está agora a sair do adro, mas bem sabemos que teremos de voltar a defender intransigentemente os nossos interesses, assim como estar absolutamente disponíveis para dialogar, conciliar, somar, junto da Tutela, bem como, evidentemente, novamente disponíveis e interessados em trabalhar uma posição conjunta com a DECO”.
A privatização da TAP e o novo aeroporto de Lisboa também estiveram na ordem do dia e estarão entre as prioridades das APAVT para o próximo mandato. “Já começou uma revolução na relação da indústria aérea com o setor. A TAP e outras companhias aéreas anunciaram a intenção de introduzir o NDC no mercado português e a IATA mantém a pressão sobre uma relação já de si injusta, totalmente desequilibrada, desenhada pelos poderosos lobbies europeus da indústria aérea”.
Em sede do capítulo aéreo da APAVT, “tentaremos construir as pontes de diálogo que permitam estabelecer o tempo e o modo de tão profundas alterações. Não são as primeiras, e não será a primeira vez que as saberemos ultrapassar com êxito, protegendo as nossas empresas e, sobretudo, os nossos clientes. O que pode agora ser diferente, é a credibilidade absoluta dos dirigentes da TAP, facto que só nos pode ajudar a desenvolver tão exigente tarefa”, aludiu.
Já em relação ao novo aeroporto, o presidente da APAVT garante que as “questões relacionadas com a solução aeroportuária nacional, manter-se-ão. Não apenas a lamentável inexistência de uma solução para o novo aeroporto, em que a APAVT estará, como tem estado, junto da CTP, como também as dificuldades de obtenção de slots, as más experiências de turistas nacionais e internacionais, e mesmo a capacidade de desenvolvimento de operações noutros aeroportos, concretamente o do Porto, temas que serão tratados em sede tanto do capítulo de operadores, como dos capítulos aéreos, de distribuição e de incoming”.
Pedro Costa Ferreira diz que mantém “esperanças ténues no que concerne à capacidade política para resolver esta questão, ainda mais com a recente crise política” e solicita que o “problema brutal do aeroporto de Lisboa, não oculte outros problemas da mesma matriz, como sejam as dificuldades de operação no aeroporto da Madeira, onde poderá haver medo político de alterar antigos parâmetros técnicos, quando toda a tecnologia, em terra e no ar, já evoluiu exponencialmente”.
O Património Cultural e a inexistência de uma estratégia integradora será outra das preocupações da APAVT. “Cientes da importância do Património Cultural para a oferta turística, estamos interessados em participar num trabalho multidisciplinar que aproxime o património Cultural do turismo e, sobretudo, das pessoas. Mas, para isso, seria importante que alguém entendesse a efetiva transição da tutela da DGCP para as novas entidades gestoras do Património em Portugal, a Património Cultural, I.P. e a Museus e Monumentos de Portugal, E.P.”, mencionou.
Tendo consciência que a modernização do setor é fundamental, o dirigente associativo disse que é objetivo da APAVT “acompanhar e apoiar a inserção da Inteligência Artificial no setor, assim como temos o dever de continuar a tratar com muita atenção e todo o carinho um modelo único no Mundo, de relacionamento com o cliente, o Provedor do Cliente da APAVT, e de desenvolver o modelo de certificação da DECO, um projeto absolutamente inovador e que está muito longe de atingir a dimensão e a maturidade que merece, que desejamos e que tanto beneficiará o setor”.
Ao nível da sustentabilidade disse que a APAVT iria abrir certamente “as hipóteses de certificação” e fazer um trabalho conjunto com o Turismo de Portugal “em redor do programa 360”.
Transparência, diálogo, lealdade, independência e trabalho discreto no relacionamento com o novo Governo
No relacionamento da APAVT com a tutela, e apesar do mandato iniciar-se com um Governo em gestão, Pedro Costa Ferreira é transparente e afirma que serão “transparentes”, privilegiarão “diálogo”, manter-se-ão “leais”, serão “independentes” e manterão a “primazia pelo trabalho discreto”.
“A instabilidade política é enorme, e, portanto, não sabemos com quem vamos dialogar nem quando vamos começar a dialogar. Ninguém sabe. Porém, com quem quer que seja que venhamos a dialogar, sabemos bem o que vamos querer. Vamos querer estabilidade, claro que sim. Que venha um governo que nos represente por quatro anos. Também um Governo que seja capaz de decidir, iniciando as obras da nova solução aeroportuária e que seja capaz de legislar pouco e fazer cumprir o que legislou, dando estabilidade à vida económica e confiança aos empresários. E falando de cumprimento da legislação, um governo que finalmente atue sobre as empresas clandestinas que se apresentam como agências de viagens, sem o necessário RNAVT, e, o que é mais, sem a devida proteção ao consumidor”, deixou Pedro Costa Ferreira sobre as suas expetativas em relação a um novo Governo.
“Vamos querer um governo e uma tutela que olhe para o setor da distribuição, sabendo que representamos entre efeitos diretos, indiretos e induzidos, cerca de 5 mil milhões de euros (…), cerca de 2,5% do PIB”, disse ainda.
Frisando uma vez mais que esta será a sua “última tomada de posse”, Pedro Costa Ferreira terminou o seu discurso dizendo que tem uma “responsabilidade acrescida” e, por isso, vão “continuar a descentralizar os mecanismos da Associação; formar mais uma onda de adesões, fortalecendo a voz da associação em processos transformadores tão decisivos como a transposição da diretiva europeia, ou a inserção dos mecanismos de inteligência artificial nas empresas; e formar um grupo coeso e extensivo a todos os associados que se queiram juntar, para protagonizar um futuro” do qual eu já não fará parte.