Newtour aposta na internacionalização para crescer face aos desafios do mercado nacional

O Grupo Newtour, um dos principais players do setor do turismo em Portugal, está a intensificar a sua estratégia de internacionalização como forma de garantir um crescimento sustentável e manter a sua competitividade num mercado cada vez mais globalizado. A decisão surge em resposta a desafios internos, como a estagnação da capacidade aeroportuária em Lisboa e a privatização iminente da TAP, que poderá deslocar o centro de decisão da transportadora para outra cidade europeia.

Tiago Raiano, CEO do grupo, sublinha que a internacionalização é a única forma de garantir a relevância da Newtour no futuro. “O mercado nacional está a enfrentar um estrangulamento, seja pelo atraso no aumento da capacidade aeroportuária, seja pelo impacto que a privatização da TAP terá no setor da distribuição. A única forma de continuarmos a crescer é olharmos para além das nossas fronteiras”, afirmou numa conferência de imprensa em Lisboa.

Internacionalização como prioridade estratégica

Com um volume de negócios que atingiu os 180 milhões de euros em 2024 – um crescimento de 21% face ao ano anterior –, a Newtour prevê manter um crescimento na ordem dos 15% a 20% nos próximos anos. Para isso, o grupo está a reforçar a sua presença em mercados internacionais estratégicos, como Brasil, Norte da Europa, Estados Unidos e Canadá.

Uma das principais apostas para este processo é a marca Menzel, que reúne as operações das Destination Management Companies (DMCs) do grupo nos Açores, Portugal Continental, Cabo Verde, Tunísia e São Tomé e Príncipe. Segundo Gonçalo Palma, responsável pela área de operação turística e DMCs, a Menzel foi concebida como “uma marca única e internacional, que garante credibilidade junto dos mercados estrangeiros”. Para consolidar essa posição, a empresa está a reforçar a presença comercial através de feiras e roadshows internacionais.

Além da operação turística, a Newtour está também a expandir a sua atuação na aviação, setor que representa 17% do volume de negócios do grupo. Mário Almeida, responsável pela área, revelou que a empresa está a fechar um grande contrato que envolverá não só companhias aéreas, mas também cruzeiros e outras entidades. Esta diversificação do portefólio permitirá à Newtour aumentar a sua competitividade num mercado cada vez mais desafiante.

Desafios no mercado nacional impulsionam mudança

A aposta na internacionalização surge como resposta a desafios estruturais do mercado português, nomeadamente a falta de capacidade aeroportuária em Lisboa. Segundo Carlos Baptista, responsável pela área de distribuição do grupo, o atraso na decisão sobre o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) já está a afetar os negócios e poderá ter um impacto ainda mais severo nos próximos anos. “O mercado nacional, nos próximos 10 anos, vai ter um estrangulamento inevitável. Já sentimos esse efeito e sabemos que vai agravar-se. Para crescermos, temos de procurar oportunidades fora de Portugal”, explicou.

Outro fator determinante para a nova estratégia da Newtour é a privatização da TAP, que deverá alterar significativamente a dinâmica do setor da distribuição em Portugal. Tiago Raiano alerta para o risco de perda de influência das empresas portuguesas junto da transportadora aérea nacional. “A TAP tem sido gerida por equipas que conhecem bem a realidade do nosso mercado, mas, com a privatização, o centro de decisão será deslocado para outro país europeu. Isso mudará a forma como as empresas portuguesas negociam com a companhia e pode tornar a distribuição mais periférica”, referiu.

Reestruturação para o futuro

Para garantir uma execução eficiente da estratégia de internacionalização, a Newtour realizou uma reestruturação interna, com uma nova divisão de responsabilidades dentro da Comissão Executiva. Tiago Raiano mantém-se como CEO, enquanto Carlos Baptista continua a liderar a área de distribuição, que representa mais de metade (52%) do volume de negócios do grupo, com marcas como Bestravel, GEA Portugal, GEA Brasil, TravelGEA, Newair e Turangra.

Gonçalo Palma passa a integrar a Comissão Executiva, ficando responsável pelas operações turísticas e pelas DMCs, que, juntas, representam cerca de 26% do volume de negócios. Já Mário Almeida continuará à frente da área da aviação, que, além das companhias aéreas, passará a incluir novas representações no setor dos cruzeiros.

Além destas áreas principais, a Newtour conta ainda com negócios complementares, como a animação turística, através da Picos de Aventura, e o desenvolvimento tecnológico, com a Techtour, que tem apostado na implementação do NDC (New Distribution Capability) para modernizar os processos de venda e distribuição.

Crescimento sustentado e olhar no futuro

Apesar da forte aposta nos mercados internacionais, a Newtour mantém o compromisso de continuar a investir em Portugal. “O grupo não vai deixar de investir no mercado nacional, mas temos de estar atentos às dinâmicas globais e garantir que conseguimos competir com os grandes players europeus”, afirmou Tiago Raiano.

A expectativa do grupo é que, com a nova estrutura organizacional e a expansão internacional, a faturação ultrapasse os 200 milhões de euros já em 2025. A Newtour acredita que, ao consolidar a sua presença fora de Portugal, conseguirá não apenas aumentar a sua rentabilidade, mas também fortalecer a sua posição no mercado nacional, tornando-se um dos grandes nomes do turismo de língua portuguesa a nível global.

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