Pedro Costa Ferreira encerra ciclo à frente da APAVT em Macau com visão de futuro para turismo e IA

*Por Sílvia Guimarães

O presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira, proferiu nesta quinta-feira o seu derradeiro discurso num congresso da associação, durante a cerimónia de encerramento da 50.ª edição realizada em Macau. Em cinco mandatos, Costa Ferreira qualificou o momento como a “última comunicação num congresso” e sublinhou a importância simbólica de fechar o ciclo naquele território, descrevendo-o como “uma circunstância absolutamente feliz e especialmente agradável”.

Ao recordar quase quinze anos à frente da APAVT, o líder reiterou que o trabalho foi sempre visto como um dever, garantindo que a instituição “foi sempre a prioridade” e que, no fim, ficará apenas como “mais um presidente que por lá passou”. Não deixou de reconhecer a dimensão humana da tarefa, lembrando o período mais crítico da pandemia, quando o setor registou uma quebra de faturação de 77% e tudo pareceu “impossível”.

Costa Ferreira descreveu o seu estilo de gestão como uma fusão de firmeza e construção: afirmou ter “preferido liderar pelo exemplo” antes de “elevar a voz”, ter seguido o caminho de “construir em vez de apenas protestar” e ter envidado esforços para “unir onde outros afastaram”. Também destacou a busca constante por equilibrar os interesses do setor com os objetivos da comunidade que o envolve, afirmando que “unir um universo multifacetado” requer sensibilidade para defender, sobretudo, as vozes mais fracas.

O presidente reforçou a ideia de que a APAVT permanece estável e capaz de resistir a pressões externas: “contribuímos para uma organização financeiramente robusta, que não se curva a pressões de grupos específicos”, enfatizando que essa solidez facilita o trabalho coletivo. Quanto à visibilidade pública, admitiu ter estado “em momentos visíveis” quando necessário para representar o setor, justificando tais ações pela obrigação de defender os interesses da indústria.

Para o legado, Costa Ferreira expressou o desejo de ser lembrado como alguém que ajudou a desenvolver a APAVT, que estabeleceu acordos duradouros e que sempre abraçou aquilo que move o turismo, “e que hoje se retira com reputação de credibilidade e confiança”. A terminar, deixou uma nota carregada de emoção: “a saudade é a memória do coração, e certamente vou sentir muita saudade de todos vós.”

O discurso encerrou com o foco na continuidade: o líder destacou o orgulho de ter conduzido a APAVT rumo a um futuro de evolução contínua, especialmente num contexto de recuperação do turismo. A escolha de realizar o evento em Macau reforçou os laços entre Portugal e a região, marcando o encerramento de um ciclo de liderança que acompanhou a associação por um período de transformações, desafios e oportunidades para o setor.

Entre as mensagens centrais, o líder associativo lembrou que “a história de cinquenta anos de congressos e setenta e cinco de vida” da APAVT está intrinsecamente ligada à “história do Turismo Português”, conforme afirmou em desafio de memória institucional. Ao agradecer às equipas locais, citou de forma afetuosa as colaboradoras que tornaram possível o congresso no outro lado do mundo: “não são penas colaboradores, são extra-terrestres … obrigado, Ricardo, Fátima, Edite, Maria e Catarina”.

Macau foi escolhida como local do encerramento por três motivos, segundo o próprio presidente. Primeiro, “pela própria história de Macau, nos congressos da APAVT”, que o fez destacar a cidade como a que mais vezes organizou o evento. Em segundo lugar, pela “diversidade, modernidade e segurança” que Macau representa, valores que Costa Ferreira enquadrou com a ideia de turismo. Por fim, pela oportunidade de abrir “a porta do amanhã” num centro de inovação e liderança económica do Oriente.

Sobre o futuro, o discurso deu espaço a uma reflexão sobre o impacto da inteligência artificial no setor. “A Inteligência artificial vai mudar tudo, e isso talvez não seja uma novidade tão extraordinária se olharmos para a história do Mundo, mas vai mudar tudo a uma velocidade nunca vivida”, disse, admitindo dúvidas e receios, mas sinalizando uma via de saída: a introdução metódica e estratégica da IA nas empresas do turismo. Para Costa Ferreira, “as questões da competitividade e da ligação próxima ao cliente” permanecem entre as prioridades, sendo a distribuição turística um polo-chave para manter a modernidade e a relevância.

O presidente aproveitou para agradecer a Sérgio Ferreira pela colaboração no pensar o futuro da APAVT, recordando que “a APAVT está em dívida para contigo”. Na sua visão para o sector, Costa Ferreira apontou várias áreas de atuação: políticas públicas que promovam imigração com equilíbrio, crescimento económico planeado, integração de colaboradores nas estruturas empresariais e infraestruturas que respondam às necessidades, além de um repensar da linguagem pública e de uma maior clareza sobre mercados. Em termos de mobilidade, pediu que as cidades consigam ser parceiras na organização da mobilidade, e que o setor seja visto como um elemento de progresso, não como intruso.

Entre as promessas para o futuro da APAVT, o presidente anunciou a inauguração de uma nova sede, adquirida com recurso próprio, “para estarmos mais próximos dos nossos associados e mais eficazes na defesa dos interesses do setor”. O anúncio fecha com uma nota de continuidade: “A APAVT vai continuar a crescer e a aumentar a sua influência, espelhando com isso o crescimento do setor e o aumento da influência do setor na economia portuguesa.” O discurso encerrou com uma nota de expectativa para o próximo capítulo da associação e o desejo de uma continuidade forte na liderança, destacando ainda a frase de Giorgo Armani citada por Costa Ferreira: “elegância não é sobre ser notado, é sobre ser lembrado”.

*A jornalista em Macau a convite da APAVT