Mais de duas dezenas de ministros e governantes de todo o mundo, 140 oradores, professores e líderes do setor do turismo estiveram reunidos, em Évora, na maior conferência internacional sobre turismo sustentável. No final do fórum, foram anunciados os cinco atos urgentes que vão permitir mobilizar a indústria do turismo no caminho da sustentabilidade global.Ao relevar estes objetivos, os organizadores pretendem acelerar a transformação da indústria de viagens para um futuro mais sustentável. Milhares de pessoas, em mais de 80 países, assistiram virtualmente ao evento, que contou com uma plateia de cerca de 350 participantes presenciais, em Évora.
As equipas da ‘A World for Travel’ e do Resilience Council uniram-se para traçar o panorama atual da indústria de viagens em termos de ações e objetivos sustentáveis – dados que foram utilizados para desenvolver os cinco compromissos urgentes para a sustentabilidade e para as viagens regenerativas. O fórum de dois dias expôs as preocupações dos líderes do setor, através de mais de 30 sessões e grupos de discussão. Foi ainda realizado um inquérito global a viajantes, por Oliver Wyman, em setembro de 2021, que concluiu que as medidas de sustentabilidade ambiental continuam a ser classificadas em último lugar num ranking de prioridades e que apenas 17% dos consumidores em todo o mundo consideram que esta é uma das três principais prioridades ao escolher um destino de viagem.
Os cinco compromissos urgentes acordados nesta conferência serão o início de uma abordagem contínua e visam abranger: viagens regenerativas, redefinição das viagens de negócio, envolvimento profundo com as comunidades, compensações pela redução de carbono, financiamento e investimento no turismo e um maior desenvolvimento das cadeias de fornecimento locais.
A principal conclusão do Évora Fórum é que ainda há muito caminho a percorrer e iniciativas a implementar imediatamente, através da colaboração das diferentes entidades do setor.
Durante a conferência foram identificados cinco atos urgentes. O primeiro passa por oferecer opções/incentivos fiáveis de compensação ao carbono. Com apenas 10% das companhias aéreas a oferecer compensações voluntárias à redução das emissões de carbono, a confiança dos consumidores e a credibilidade nestes programas de incentivos é baixa. Será fundamental para este ato a introdução de uma métrica única para a medição da pegada de carbono, incentivos e investimento público em planos mais transparentes.
Por outr lado, será necessário definir um plano concreto de redução de emissões de carbono em cada setor do turismo. Entre 2005 e 2015, registou-se um crescimento de 60% das emissões de CO2 relacionadas com o turismo, prevendo-se um aumento das emissões de CO2 para 2030. A menos que a descarbonização seja acelerada, é crucial reduzir o carbono em todos os setores. Muitas empresas já têm metas carbono zero, mas agora é crucial que todas as organizações cumpram este objetivo, e que venham a ser pontuadas por empresas de certificação internacionais.
O terceiro ato idenficiado é a necessidade de priorizar investimentos para desenvolver o turismo sustentável. O investimento médio em turismo é 17% do PIB à nível internacional. Esta despesa precisa de ser aumentada para desenvolver o turismo sustentável. Muitos países não investem o suficiente no turismo e em breve tornar-se-á mais difícil investir sem que haja um plano de turismo sustentável, uma vez que os bancos dão prioridade a estes investimentos com fortes credenciais de ESG.
De seguida, os oradores consideram fundamental desafiar as comunidades a desenvolver soluções turísticas. Este foi o compromisso mais debatido no Évora Fórum. É crucial garantir que o turismo beneficia e cria envolvimento com as comunidades, pessoas e regiões. 70% dos turistas querem ter um impacto positivo na economia e no ambiente por onde viajam, por isso, este compromisso está fortemente alinhado com a procura dos consumidores. É necessário criar incentivos e planos de boas práticas para mostrar ao mundo como o turismo e as comunidades podem ser mutuamente benéficos.
Por último, acelerar e fortalecer as cadeias de abastecimento locais, integrando-as nos ecossistemas e economias das regiões. Relacionando este acto com o quarto compromisso já descrito, as empresas devem sempre escolher um fornecedor local, independentemente do valor do seu produto. 95% das despesas dos turistas revertem para economias em desenvolvimento, enquanto 83% das marcas e empresas se concentram em causar um impacto positivo, em vez de simplesmente causarem menores danos ao planeta e à sua população.
A secretária de Estado do Turismo de Portugal, Rita Marques, afirmou sair de Évora com “uma missão: educar e capacitar a próxima geração para o impacto das nossas escolhas e para o enorme efeito que estas escolhas têm na nossa saúde e bem-estar e do nosso planeta”.
Já Christian Delom, secretário-geral da A World for Travel, acrescentou que “a indústria de viagens não pode continuar no modo em que se apresenta. Estes cinco compromissos, desenvolvidos por ministros do turismo e líderes do setor, representam mudanças drásticas que podem ser implementadas para apoiar a transformação das viagens para um futuro mais sustentável. Apoiamos estes actos e assumimos o nosso compromisso com a indústria de que aumentaremos as mensagens, facilitaremos as parcerias, partilharemos informações e dados fundamentais, defenderemos a liderança do pensamento em todo o mundo e encontraremos uma forma de medir iniciativas para alcançar progressos significativos. Estamos solidários com as nossas ações.”
Frederic Vanhoutte, diretor geral da Eventiz Media, concluiu que criaram “o espírito de Évora, ouvindo o apelo da indústria para que se adotem ações concretas para acelerar a transformação das viagens para um futuro mais sustentável. Através da criação dos cinco actos urgentes, pretendemos alterar comportamentos e proporcionar uma compensação imediata. É um facto reconhecido pela indústria que as empresas sustentáveis têm um melhor desempenho, mas também que a indústria do turismo está muito aquém do que já deveria estar. Com estes compromissos firmes esperamos fazer progressos significativos e criar milhares de novos embaixadores para o turismo sustentável.”
Durante a conferência ‘A World for Travel’ – Évora Fórum’ decorreram mais de 30 apresentações, painéis e grupos de discussão, onde foram debatidas várias questões, desde a economia do turismo ao impacto do turismo no ambiente.