Mealhada, Luso, Bussaco: tantas razões, um só destino

Quem visita a Mealhada apaixona-se. Pelo que vê, pelo que sente, pelas cores, pelos aromas e sabores. Vê-se a Mata Nacional do Bussa­co e sente-se a presença dos Carmelitas que ali cri­aram o seu Deserto, entre 1628-1834. Experimenta-se a riqueza das águas termais do Luso e guardam-se, na memória, as sensações agradáveis que unem o corpo ao espírito. Provam-se os sabores e aromas da gastronomia bairradina, como o leitão e os vinhos e espumantes, e fica a promessa obrigatória de voltar e (re)descobrir mais…

É na Mata Nacional do Bussaco, monumento nacional candidato a património mundial da UNESCO, que começa, quase sempre, a visita ao concelho da Mealhada. Um espaço que irradia natureza e história e que, no coração dos 105 hectares, exibe e conserva a marca deixada pelos frades da Ordem dos Carmelitas Descalços. No meio de uma mancha verde com espécies e habitats únicos no mundo, encontra-se o núcleo edificado de incomensurável riqueza. O Convento de Santa Cruz, recentemente recuperado, abre portas à descoberta desta outra realidade que o Bussaco viveu durante séculos. O convento, revestido a cortiça e embrechados (incrustados de pedras), foi construído na simplicidade exigida pela vocação eremítica do Deserto. E mais à frente, outro marco da força e vontade dos carmelitas: uma Via Crucis (via-sacra), a única erigida no mundo à escala da existente em Jerusalém.

Do religioso ao romântico

A Ordem do Carmelitas seria extinta em 1834 e a Mata do Bussaco perde este cariz religioso, mas, em 1856, transita para a Administração Geral das Matas do Reino e ganha uma nova dimensão, considerada mais “romântica”. Em 1888, Emídio Navarro, então ministro das Obras Públicas, dá início à construção de um palácio real, em estilo neomanuelino, com projeto do arquiteto e cenógrafo italiano Luigi Manini (1848-1936). As obras ficaram concluídas em 1907, sendo o Palácio convertido em hotel de luxo – o Palace Hotel do Bussaco, hoje um dos pontos de maior interesse de todo este conjunto central da Mata.

A visita não fica completa sem a passagem pela Cruz Alta, um fabuloso miradouro; a Fonte Fria, uma imponente fonte ladeada de escadas e pelas portas de entrada na Mata.

Mas o Bussaco haveria ainda de ser palco da história de Portugal. Foi a 27 de setembro de 1810 que ali se deu uma importante batalha das invasões napoleónicas no nosso país. A atestar esta importân­cia está o Museu Militar, que explica o confronto entre as tropas luso-britânicas e francesas, bem como as comemorações da efeméride, frequentemente com recriações e passeios históricos pelos caminhos da passagem francesa.

A estas dimensões religiosa, arquitetónica e históri­ca junta-se a de natureza. O Bussaco possui uma das melhores coleções dendrológicas da Europa, com cerca de 250 espécies de árvores e arbustos com exemplares notáveis. É uma das matas nacionais mais ricas em património natural, podendo ser dividida em três unidades de paisagem: Arboreto, Jardins e Vale dos Fetos e Floresta Relíquia, uma formação vegetal clímax de plantas autóctones que, segundo alguns autores, conserva as características típicas da floresta primitiva, antes da ocupação humana.

Das Termas do Luso à gastronomia

Da Mata, descemos ao sopé, onde se encontram as Termas de Luso, que, com as suas águas, ímpares, das melhores águas minerais e medicinais do mun­do, convidam ao relaxamento e a uns dias de fuga ao bulício quotidiano, numa unidade termal de qualidade superior.

O passeio alargado ao concelho mostra paisagens e vinhedos interpolados com povoações e igrejas, parques, como o dos Moinhos do Lograssol ou o Parque da Cidade da Mealhada, e convida a retem­perar forças… apreciando a fabulosa gastronomia bairradina. Considerada a sala de jantar da Europa, a Mealhada possui a maior concentração de restau­rantes por metro quadrado do país e aqui reina o leitão da Bairrada, estaladiço, incomparável, um pro­duto de excelência da região, que deu origem a uma panóplia de iguarias únicas, de que são exemplo as iscas ou a cabidela de leitão. E a acompanhar não faltarão os vinhos e espumantes de Denominação de Origem Controlada (DOC) Bairrada, onde man­da a casta baga. Não falta também o famoso pão da Mealhada e a água de Luso, que completam os sabores da marca 4 Maravilhas da Mesa da Mealhada: água, pão, vinho e leitão.

É pelos sabores, pelos cheiros, pelas sensações, pelas experiências e memórias que se prende o visi­tante e os argumentos da Mealhada não estão ainda esgotados. Aqui há cultura, com grandes produções a pisarem o palco do Cineteatro Messias, há festi­vais, há a festa ímpar do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada, onde o samba faz mexer centenas de pessoas, há o Rally Legends, uma prova mítica inter­nacional de pilotos e viaturas que abraça a Mata do Bussaco e marca o calendário de eventos da região centro de Portugal.

Artigo publicado na VIAJAR Guias Práticos nº 7 – Férias e Escapadinhas para Todas as Bolsas, março 2023

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui