VII Fórum do Vê Portugal lançou pistas sobre o turismo interno depois da pandemia

A 7.ª edição do Fórum de Turismo Interno “Vê Portugal”, que este ano decorreu em formato híbrido, foi um grande sucesso, com várias centenas de participantes. A edição de 2021 teve como base o Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, onde os participantes nacionais realizaram as suas intervenções. Os intervenientes de fora do país participaram via streaming, assim como os espectadores que se inscreveram.

A Sessão de Abertura contou com a presença da Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, além dos anfitriões Fernando Tinta Ferreira, Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, e Pedro Machado, Presidente da Turismo Centro de Portugal.

Fernando Tinta Ferreira destacou, na ocasião, que “ser hospitaleiro está na génese das Caldas da Rainha desde que foi fundado o Hospital Termal”, o mais antigo do mundo. As Caldas são uma “terra de águas e de artes, que tem seguido o seu caminho, tem crescido de forma sustentável, é a sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste” e, por isso, “está no centro da mais pitoresca região do país”. Além de oferecer aos visitantes “belezas próprias, como a Lagoa de Óbidos ou o Parque D. Carlos I”, tem uma “atratividade crescente, que antes da pandemia crescia nas dormidas em comparação com os vizinhos”, acrescentou o autarca.

Pedro Machado apresentou os quatro painéis que irão preencher este Fórum “Vê Portugal” e apontou os vários assuntos que vão marcar o dia, como a importância do “mercado interno alargado”, a necessidade de “reconquistar mercados internacionais” nesta fase de recuperação e os fatores decisivos que são a “perceção de segurança por parte dos visitantes” e a “estruturação de novos produtos turísticos”. “Portugal está cá, apto para receber os visitantes, em segurança, 365 dias por ano”, concluiu.

A secretária de Estado Rita Marques pautou a sua intervenção por uma perspetiva de otimismo para com o futuro próximo. “Nos últimos anos, o crescimento da notoriedade da marca Portugal tem crescido”, disse, lembrando que todos os ativos que contribuíram para esse crescimento “não saíram beliscados da pandemia. continuam cá para os visitantes”.

“Estamos a virar a página, depois de dias difíceis. Com a entrada de Portugal na ‘lista verde’ do Reino Unido, estamos em vantagem relativamente a destinos concorrentes”, lembrou.

“O Turismo não necessita de reformas estruturais, precisa sim de um plano específico que permita acelerar o setor. Na semana passada chegou o momento de anunciar o plano” continuou a governante, elencando as principais medidas do plano de reativação do Turismo, nomeadamente “apoiar as empresas”, “instigar confiança aos visitantes”, “assegurar o posicionamento competitivo de Portugal a nível internacional” e “olhar para o futuro.

Lei das Entidades Regionais animou o debate

O primeiro painel do Fórum teve como âmbito a discussão de um tema central deste congresso. Os cinco Presidentes das Entidades Regionais de Turismo – Porto e Norte, Centro de Portugal, Lisboa, Alentejo e Ribatejo e Algarve – juntaram-se para avaliar a Lei 33/2013, que definiu o regime jurídico da organização e funcionamento destas Entidades. A moderação coube a Paulo Baldaia, comentador da SIC Notícias e jornalista.

João Fernandes, Presidente da ER Turismo do Algarve, começou por lembrar que a Lei 33/2013, quando foi desenhada, tinha um propósito que “não corresponde ao que se passa na realidade”, uma vez que uma “série de constrangimentos”, orçamentais e de tutela, “inviabilizam que a Lei se concretize na sua plenitude”. “Ainda assim”, afirmou, “podemos concluir que este modelo descentralizador produz resultados”.

Vítor Silva, Presidente da ER Turismo do Alentejo e Ribatejo, destacou o facto de que “sempre vivemos entre o poder central, que quer ser tentacular, e o poder regional, que conhece melhor o território”. “Esta tensão sempre existiu e sempre vai existir”, reiterou, lembrando que “o único setor que está verdadeiramente descentralizado é o Turismo, porque foi criado de baixo para cima”. “As regiões de turismo fazem um trabalho extraordinário e conseguem impor as suas necessidades ao poder central”.

Vítor Costa, Presidente da ER Turismo da Região de Lisboa, foi particularmente crítico para com os constrangimentos atuais com que se debatem as entidades regionais, nomeadamente a circunstância de não poderem usar todo o saldo orçamental disponível e as cativações. “Todos nós temos saldo no banco que não podemos utilizar. O aspeto da autonomia financeira tem de ser revisto”, apelou, antes de considerar que “é essencial que continue a haver regionalização no turismo, num país marcado pela sua diversidade”.

Luís Pedro Martins, Presidente da ER Turismo Porto e Norte de Portugal, resumiu a questão: “O problema está identificado. Havendo vontade, não será difícil alterar a Lei ou fazer uma Lei nova, desde que o país entenda que a autonomia ao nível do Turismo deve continuar, como nós entendemos”. “Durante mutos anos, o país era conhecido como destino de sol e praia. Não era possível dar o salto porque não eram apresentados ao mundo outros produtos. As regiões de turismo vieram apresentar uma paleta de outros produtos e trazer ao país novos mercados emissores de turistas”, destacou.

Pedro Machado, Presidente da ER Turismo do Centro de Portugal, frisou, por sua vez, que “o edifício do Turismo está bem construído, mas não está a funcionar devidamente”. “Na sua matriz, as entidades de turismo são o único organismo descentralizado e alcançou resultados. Portugal é a soma das partes. Mas a nossa autonomia de execução está hoje limitada por uma tripla tutela. Hoje, pensar-se num processo de fusão nos organismos do Estado é centralizar, ao invés de descentralizar”, acrescentou.

Pedro Machado foi ainda muito crítico da possibilidade de as competências regionais a nível do turismo passarem para a alçada das CCDR: “As CCDR têm revelado dificuldades em executar os programas. Falta planeamento às CCDR; têm coordenação, mas não têm planeamento. São instituições pesadíssimas, verdadeiros elefantes e, se ainda ficarem com competências no Turismo, tornam-se mastodontes. Isso seria colocar um garrote na atividade turística.

A terminar a sessão, abordou-se o plano de revitalização do Turismo, apresentado na semana passada. As opiniões foram positivas. “É uma bazuca para o Turismo, que vem fazer justiça ao muito que o Turismo fez pelo país”, considerou Pedro Machado, enquanto Vítor Costa alertou que o “desafio será passar este plano de um powerpoint para a realidade”, no que foi corroborado por todos.

Um pouco de Caldas da Rainha

O segundo painel consistiu na apresentação da Estratégia de Promoção Turística e do “Roteiro 360º das Caldas da Rainha.

Hugo Oliveira, vereador do município que acolhe este evento, deu a conhecer a todos os congressistas os principais ativos turísticos do concelho, através de uma visita virtual. A intenção, muito bem conseguida, foi convidar e motivar a uma futura visita às Caldas da Rainha, “ao vivo e a cores”. Seguramente que todos os presentes ficaram com vontade de visitar este território!

Participantes internacionais falaram das novas tendências

O terceiro painel foi o mais internacional. O tema — Tendências na Promoção e Estruturação Turística I Pós-COVID-19 – assim o justificava.

O painel, moderado por Rodrigo Pratas, jornalista da SIC, contou com a participação de Alessandra Priante, Diretora do Departamento Regional para a Europa da OMT – Organização Mundial de Turismo, John T. Bowen, Professor e Autor da Universidade de Houston, Marta Poggi, conferencista e mentora especializada em Tendências, Inovação e Transformação Digital no Turismo e Hotelaria, e António Jorge Costa, Presidente do IPDT – Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo.

O painel visou debater os desafios colocados à promoção e estruturação turística no atual contexto de pandemia, bem como conhecer as novas tendências do comportamento do consumidor.

Os participantes foram unânimes em considerar que a pandemia veio alterar os hábitos de quem viaja. Alessandra Priante começou por sublinhar que “os desafios são oportunidades” e elencou aqueles que são, de acordo com a OMT, os caminhos a seguir pela atividade turística, com a “inovação” e a “sustentabilidade” à cabeça.

O professor John T. Bowen, por sua vez, apresentou uma nota otimista, tendo como base a realidade a que assiste nos Estados Unidos. “Assim que a situação pandémica estabilizar na Europa, os americanos vão voltar a voar para a Europa”, disse. Com a diferença de que “vão gastar mais e ficar mais tempo, com interesses mais variados”.

No mesmo tom continuou Marta Poggi, para quem “as pessoas continuam a sonhar com viagens, com o dia em que vão colocar o pé na estrada novamente”. Os viajantes, considerou, “procuram hoje novos produtos e novas experiências turísticas, por isso precisamos de novas formas de fazer a promoção dos destinos turísticos”. “A mudança é constante”, disse, apresentando algumas das novas tendências e as estratégias que estão a ser seguidas por outros destinos.

António Jorge Costa, a terminar, descreveu igualmente algumas das estratégias que o IPDT recomenda seguir. Estas passam por conceitos como a valorização do capital humano, a sustentabilidade, a inovação tecnológica, a segurança, a inclusividade e o aumento da procura por destinos de natureza.

A pandemia e a crise nas vendas

O quarto painel juntou os representantes das principais associações nacionais do setor turístico, para debater a “Comercialização e Venda” – mais concretamente os principais obstáculos e ameaças à comercialização e vendas no atual contexto pandémico

Moderado por Ricardo Santos Ferreira, editor do Jornal Económico, o painel foi composto por Pedro Costa Ferreira, Presidente da APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, Carlos Moura, Vice-Presidente da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, António Marques Vidal, Presidente da APECATE – Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, Joaquim Robalo Almeida, Secretário-Geral da ARAC – Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor, e Frederico Costa, Vice-Presidente do Conselho Diretivo da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal.

Frederico Costa manifestou a sua preocupação com os efeitos desta crise que, no seu entender, ainda se vão fazer sentir. “Receio que ainda não tenhamos visto todos os efeitos desta crise na perda de postos de trabalho e no encerramento de empresas. Vemos alguns sinais positivos, como o corredor aberto aos britânicos, a procura dos turistas nacionais e a capacidade instalada, e vamos todos tentar fazer algum dinheiro neste verão, mas recuperação aos níveis de 2019 só em 2024. Se não houver mais apoios às empresas, muita gente ficará pelo caminho”, disse, acrescentando que “sem retoma do turismo não há recuperação da economia”.

Joaquim Robalo concordou com as palavras do colega de painel. “2020 foi um ano dramático como não há memória para o rent a car. Apesar de tudo, conseguimos manter os postos de trabalho, mas as empresas estão em situação muito difícil. É necessária uma recuperação rápida do turismo para sobrevivermos”, sublinhou.

Já António Marques Vidal apontou um problema suplementar: a falta de recursos humanos. “Com a retoma da atividade, há falta de quadros técnicos especializados. Por outro lado, o setor dos eventos está parado e receio que 40% das empresas não vão voltar a abrir”, alertou. Quanto a aspetos positivos, também existem, disse: “O consumidor ficou mais exigente e quer mais qualidade e mais sustentabilidade, estando até disposto a pagar mais”.

Carlos Moura apresentou números e estatísticas que ilustram a preocupação geral dos integrantes deste painel, como a perda de empregos, de dormidas e de hóspedes que se verificou desde o início da pandemia. Além de que, criticou, “Portugal foi dos países que menos apoiaram as empresas. Antes da pandemia já havia empresas que estavam menos bem, agora estão quase todas mal e é preciso tratá-las. Que não se crie a ideia de que se as empresas estão doentes é melhor deixá-las cair”.

Pedro Costa Ferreira apontou alguns sinais encorajadores, dizendo que o setor das agências de viagens “está a conseguir resistir”, e que “só 2 por cento das agências despediu, sinal de que o lay off funcionou”. “Estamos em modo de sobrevivência até à data, mas temo que o pior ainda está para vir: com a retoma vêm os custos acrescidos e a receita não vai acompanhar”, concluiu.

Sinais de preocupação na Sessão de Encerramento

A 7.ª edição do Fórum terminou com a Sessão de Enceramento. Depois de Pedro Machado ter resumido os temas principais do dia e de Fernando Tinta Ferreira agradecer aos presentes, o dia terminou com uma intervenção de Francisco Calheiros.

O Presidente da Confederação do Turismo de Portugal elogiou o facto de este evento ter como essência o turismo interno. “Muitas vezes esquecemo-nos nos da importância do Turismo Interno. Mas quando dizemos que o Reino Unido ou o Brasil são os nossos principais clientes, não é verdade: são os portugueses”, lembrou.

“Com a pandemia, recuámos muitos anos na atividade turística. As empresas aguentaram estoicamente, mas as reservas que tinham guardadas ficaram praticamente esgotadas. Pusemos as esperanças na bazuca europeia, mas no PRR a palavra Turismo aparece apenas cinco vezes, enquanto a expressão administração pública aparece 54 vezes. O plano para o Turismo que o Governo apresentou na semana passada é uma nova esperança, mas estamos ansiosos para o ver posto em prática. Vemos, finalmente, a luz ao fundo do túnel”, concluiu Francisco Calheiros.

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