A inconstância legislativa, as limitações ao financiamento da inovação das empresas e as constantes mudanças na regulamentação do setor da hotelaria e restauração são fatores apontados como limitativos ao desenvolvimento e produtividade das empresas ligadas ao canal HORECA. As conclusões são do estudo “A Produtividade das Empresas de Restauração, Alojamento e Turismo em Portugal”, apresentado esta quarta-feira, em Lisboa, pela AHRESP, e cofinanciado pelo Turismo de Portugal.
Desenvolvido pelo Centro de Estudos Turísticos da Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril (CESTUR), e com uma abrangência temporal de 2008 a 2013, o estudo revela que o setor sofreu um enorme abanão com a crise económica vivida entre o período em análise e que a reversão desta situação deverá estar na inovação de produtos, conceitos e gestão, assim como na formação qualificada e profissional dos recursos humanos.
De acordo com o presidente da AHRESP, Mário Pereira Gonçalves, o documento agora tornado público, com mais de duas dezenas de páginas, demonstra o que deve ser feito daqui para a frente. “Indica caminhos e orientações que deverão ser tomadas em consideração por todos os intervenientes e integrantes do canal HORECA, mesmo em sede de concertação social, e nas negociações dos contratos coletivos, e deve igualmente ser analisado como um nosso contributo para a reforma do mercado de trabalho”, enalteceu.
Números pouco animadores
José Sancho Silva, da CESTUR, revelou, durante a apresentação do estudo, que “o número de empresas em atividade [em Portugal] baixou muito em relação à média europeia entre 2008 a 2012” e de 2009 a 2013 “Portugal registou uma queda do emprego líquido em 9,6%”, traduzindo-se em mais de 28 mil postos de trabalho. Por outro lado, em apenas cinco anos, Portugal viu desaparecerem 8,8 mil empresas no setor do alojamento, restauração e similares. Apesar de entre 2014 e 2015 já se assistir a alguma retoma, Pedro Carvalho, do departamento de Investigação, Planeamento e Estudos da AHRESP, garante que “ainda não é suficiente” e alerta que “as empresas ainda estão fortemente fragilizadas ao nível da rentabilidade”.
João Cotrim de Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal, presente na apresentação pública do estudo, evidenciou que “a produtividade não é mais do que um dos fatores que tem sempre estado no centro das preocupações do Turismo de Portugal e este estudo não fica pela análise escrita do que é a produtividade, mas vai sim além de fatores que são verdadeiros fatores de competitividade”.
Por outro lado, o responsável deixou presente que o Turismo de Portugal “estará sempre disponível para apoiar como apoiou este estudo e o fará com tanto maior intensidade quanto maior for a certeza que as utilizações que lhes são feitas são reais, e não estudos que ficam na gaveta, e se fizer noção de que aquilo que está a ser feito em relação à evolução e modernização do tecido empresarial tem o turista como primeiro foco”.
Orçamento de Estado 2016 incentiva a criação de emprego
A sessão de encerramento coube à secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, que frisou o fato de o turismo ser a “principal atividade exportadora de Portugal” e afirmou que “a restauração e o turismo têm um peso determinante na oferta do valor que o País tem para oferecer, dado que a restauração emprega cerca de 214 mil postos de trabalho, o que contribui para o emprego de uma forma muito positiva”, apesar de admitir que “nos últimos anos milhares de postos de trabalho na restauração desapareceram”.
Ana Mendes Godinho deixou claro, uma vez mais, que “o Orçamento de Estado para 2016 é um instrumento de incentivo à criação de emprego na restauração e hotelaria, que viveu nos últimos anos tempos difíceis e que estou certa de que os empresários os vão utilizar, porque as pessoas são quem faz a diferença no serviço e quem faz a diferença na capacidade de aumento da proposta de valor”.
Desta forma, afirma que para o governo a competitividade “assenta em cinco pilares chave: inovação, na conceção do produto, na comercialização e promoção; na capacitação digital das empresas; na captação de financiamento; na internacionalização, certificação e diminuição dos custos de contexto; e na formação, onde as escolas têm de estar cada vez mais de portas abertas para dialogar com os empresários”.