Augusto Mateus, professor universitário e antigo ministro e secretário de Estado de Portugal, afirma que o “turismo inbound português continua bastante concentrado nos mercados de proximidade, sobretudo Reino Unido, Alemanha, Espanha e França”.
Apresentando um estudo que tem vindo a desenvolver na última década, intitulado “Turismo: Opções Estratégicas”, na 3ª sessão do 45º Congresso da APAVT, a decorrer no Funchal, e aproveitando a presença do presidente do Turismo de Portugal, o antigo governante defendeu que o turismo nacional está “altamente concentrado em poucos mercados emissores chave”.
O especialista frisou que “embora a maior parte do Top 10 sejam mercados de proximidade geográfica, é fora do continente europeu que têm surgido nos mercados mais dinâmicos, com a China, o Brasil e os EUA à cabeça”.
Augusto Mateus defende que “os principais mercados emissores de Portugal não devem ser tratados todos da mesma forma” e adiantou que “a América, a Ásia, a África e a Austrália são fundamentais para dar um salto qualitativo nestas direções”.
Alegando que quase nunca se pensa em sentido contrário, ou seja, qual a importância do mercado português naqueles que são os seus principais destinos emissores de turistas, o professor acrescentou que “portugal é o quarto destino europeu que mais cresce no Reino Unido, embora a evolução em termos de receitas não acompanhe o crescimento de turistas”.
Já se formos analisar o mercado francês “somos campeões”, dado que “Portugal é o destino europeu que mais cresce em França, absorvendo já 6% dos turistas internacionais franceses, seguindo-se Malta, Letónia e Grécia”.
Portugal é ainda “o destino europeu que mais cresce nos EUA, acompanhado de perto pela Croácia”, referiu.
O professor relembrou que a “atividade turística vale 17% do PIB nacional, considerando efeitos diretos e indiretos, e contribui com 11 mil milhões de euros para a balança corrente”. Comparando com os outros destinos europeus, adiantou que “o contributo total do turismo em Portugal é cerca de dez pontos percentuais superior ao registado a nível europeu ou mundial em termos de geração de riqueza”.
“Ganhar o país para o turismo”
Mas, segundo o antigo ministro da Economia, “o turismo não pode ser encarado como portador de efeitos exclusivamente positivos”, pois “existe um conjunto de outros impactos qualitativos que importa identificar, reconhecer, valorizar com o intuito de gerar maior confiança no desenvolvimento turístico como instrumento de crescimento económico, geração de emprego e progresso social”.
Na sua opinião “o turismo não pode ser concebido como uma atividade genérica suscetível de ser desenvolvida em todos os territórios”. Para si “o turismo só pode ser desenvolvido com sucesso de forma sustentável com uma atividade específica, genuína, identitária e diferenciada”.
A título de exemplo deixou presente que é fundamental “pôr a trabalhar para o país aqueles que têm mais capacidade de produzir riqueza”, como é o caso de “Lisboa, Algarve e Madeira”. Isto porque ” nem todas as regiões têm aptidão turística e este aspeto é importante para perceber que o destino Portugal é formado por estas diferenças”.
Estratégia competitiva
Augusto Mateus afirma que uma estratégia competitiva para o turismo em Portugal tem que assentar em quatro processos de transformação: digital, sustentabilidade ambiental, segurança e mobilidade. Pois só desta forma será possível “transformar vantagens comparativas em vantagens competitivas; alargar e aprofundar as fronteiras das vantagens competitivas, respondendo ao dinamismo da procura dos mercados emissores; e expandir a capacidade crítica dos destinos” e assim “dotar os destinos de meios para acompanhar as tendências globais da procura”.
*A VIAJAR MAGAZINE no Funchal a convite da APAVT