“Tenho dúvidas que estejamos num fim de ciclo”, afirma Mesquita Nunes

A falta de conhecimento dos mercados emissores turísticos para Portugal, a falta de indicador ou de políticas públicas que definam os desafios do setor, a politização excessiva do turismo enquanto área de oposição a um mundo global e a constante transformação digital do setor, foram os constrangimentos identificados para o futuro do setor do Turismo, pelo antigo secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes.

Convidado como key note speaker do painel “Turismo em Portugal: Os desafios do Crescimento”, que decorreu esta manhã, no âmbito do 44º Congresso da APAVT – Associação Portuguesa Nacional das Agências de Viagens e Turismo, o ex-governante, no que concerne à falta de conhecimento por parte de Portugal em relação aos seus mercados emissores, “o indicador matriz deveria ser o crescimento das receitas”. Na sua opinião, “o objetivo de Portugal deveria ser crescer ao nível das receitas do setor acima da média dos seus principais concorrentes”.

Desta forma, “se estivermos a crescer muito nas receitas ou o fazemos, por um lado, porque temos mais dormidas ou, por outro, porque cada dormida nos está a render muito mais. E se olharmos para esse indicador, ao dia de hoje, não há qualquer estagnação, não há qualquer fim de ciclo”, evidenciou perante os congressistas e respondendo às preocupações de Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, que no dia anterior tinha proferido no seu discurso de abertura do congresso.

Adolfo Mesquita Nunes afirma não ser pessimista, antes pelo contrário: “Acho que há várias condições para continuarmos a posicionarmo-nos neste indicador, mas claro que há muita coisa a fazer”, alerta.

Segundo o último secretário de Estado do ex-governo social-democrata, “os governos têm conseguido consensualizar e tentar ter uma política constante para o setor do Turismo, e o setor tem beneficiado com isso. Têm-no feito procurando olhar para a realidade, traçar objetivos”, adianta, mas deixa o alerta que “isso está a mudar porque na europa um quadrante politico, cada vez mais evidente, escolheu o Turismo como a encarnação temática do capitalismo selvagem”.

Para si “o pior ainda nem sequer chegou a Portugal, mas em Espanha, França, Holanda, Alemanha e Itália, os setores anti-capitalistas olham para o Turismo como o símbolo da globalização do capitalismo, o sinónimo da gentrificação, do emprego de baixas qualificações. E não há dúvida que o Turismo é um exemplo de capitalismo. Graças à economia global, o Turismo cresce como nunca cresceu e há cada vez mais gente, que antes não podia viajar e que passa hoje a poder viajar. Deixou de ser um fenómeno de elites e passou a ser um fenómeno de massas”.

A transformação digital do setor é outro dos fatores que preocupa o político. “Temos de transformar o país num destino turístico inteligente”, dado que “uma empresa que se modernizou em 2003 e que não o esteja a fazer atualmente novamente, corre o risco de ser ultrapassada”. O antigo dirigente defende que “investimentos são necessários”, assim como o fator “criativo” e “diferenciador” são fundamentais para a sobrevivência das empresas.

“Temos de vencer o desafio de transformar o país onde se testam as novas realidades, pois isso traz mais investimentos, mais ideias e mais pessoas”, concluiu.

 

* Sílvia Guimarães, em Ponta Delgada, a convite da APAVT

 

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