AHP 2019: Hoteleiros admitem que melhores salários leva a melhores recursos humanos

Melhorar os salários e criar carreiras dignas para os trabalhadores do turismo e da hotelaria em Portugal é um dos grandes desafios que o setor terá de enfrentar nos próximos anos.

Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé, Manuel Proença, Chairman da Hoti Hotéis, António Trindade, presidente da PortoBay Hotels & Resorts, José Roquette, administrador do Grupo Pestana, e Carlos Neves, administrador da SANA Hotels, estiveram hoje representados no primeiro painel do 31º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, intitulado “Investimento Hoteleiro em Portugal”, pelos seus presidentes e administradores, e a opinião foi unânime.

Para José Roquette no Turismo “há uma tradição de pagar mal, o que leva a uma elevada rotação nos recursos humanos das empresas, que faz muita diferença ao nível do serviço”. Na sua opinião, o sucesso de um hotel e, consequentemente, de um destino turístico passa pela diferenciação e isso só será possível “quando nos diferenciarmos através dos recursos humanos e isso só se consegue com bons salários” e garante que este “é o desafio mais importante que Portugal tem para os próximos anos”.

Relembrando que embora não possamos comparar o caso de Portugal com o de Espanha, até pela dimensão de ambos os países ibéricos, José Roquette evidenciou que “Espanha tem uma longa experiência no que toca a fidelizar dois dos maiores mercados emissores europeus, Alemanha e Inglaterra”. No entanto, no que toca à “relação qualidade/preço não ficamos rigorosamente nada atrás. Lisboa, Porto, Madeira, Algarve não ficam atrás de muitas capitais europeias. Isso tem a ver com cultura, formação, mas as pessoas que vieram para o setor do turismo têm prazer em servir. Algo que poderá ser multiplicado com formação” , referiu.

Já para António Trindade “temos no setor um problema relacionado com a aferição de parâmetros de produtividade, sendo que esta é uma área que torna mais difícil superar a contratação coletiva. As coisas estão mais ténues, mas o rácio de produtividade nas empresas tem efetivamente que ser discutido dentro da própria empresa”.

Segundo o presidente da PortoBay “a revolução da oferta turística espanhola é algo muito importante que temos que perceber. O rácio de aferição da qualidade, por exemplo, do serviço, em grande parte dos grupos espanhóis, é superior ao dos grupos portugueses. Agora temos que lutar ao nível de cada grupo/empresa para obter a excelência. Eu só ganho diferenciação se quiser ser excelente. A PortoBay distribui 100 mil euros por ano em prémios de Excelência, auferidos pelo cliente”.

Desta forma, António Trindade defende que “o problema da aferição da qualidade não é um problema nacional, mas de cada uma das empresas”.

De acordo com o hoteleiro madeirense “tem de haver uma maior envolvência dos funcionários com a estrutura empresarial na hotelaria, aqui está o ónus da questão. Diz-se que o pessoal é pouco qualificado na hotelaria, não tenho a certeza disso. Só tenho diferenciação de grupo quando organicamente puder passar uma imagem de excelência e qualidade”.

Manuel Proença, por seu turno, defende que “o nosso capital humano é um dos pontos em que podemos ser fortes. O problema é que não há candidatos que queiram trabalhar na hotelaria. Há um turnover elevadíssimo. Obviamente que temos de pagar melhor, mas a remuneração na hotelaria é variada”.

Carlos Neves formalizou ainda que com os últimos anos de rentabilidade atingidos ninguém o irá “convencer que não é possível partilhar alguma dessa rentabilidade com as equipas”. No que respeita à qualidade hoteleira ibérica, o administrador dos SANA defende que “estamos muito acima do que se faz em Espanha. Temos excelentes recursos humanos, os salários têm que ser conquistados no sentido de que hoje todos temos um dever de pagar bem e melhor”.

Jorge Rebelo de Almeida, afirma que para resolver esta falta de mão-de-obra “temos que abrir fronteira e receber brasileiros”. Por outro lado, considera decisivo “melhorar a qualidade vida das pessoas que trabalham na hotelaria porque só assim é que se melhora perante o cliente a nossa oferta, uma oferta que esteja associada aos aumentos do nível de produtividade”. Para terminar disse: “o trabalhador português de hotelaria não tem culpa de ganhar menos que um belga, porque um quarto se vende a €100 em Portugal quando na Bélgica custa €250”.

*A VIAJAR MAGAZINE em Viana do Castelo a convite da AHP

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