É no Turismo que reside a esperança

Neste aparente rescaldo da crise pandémica que estamos atualmente a viver é tempo de o setor voltar a ser resiliente e apostar na recuperação sustentada do setor, criando as condições necessárias para a retoma.

Costuma-se dizer que só se sente falta de algo, quando ficamos privados da sua presença. Acredito que o turismo seja o exemplo perfeito disso. Nunca fomos tão confrontados com a importância do peso do turismo para economia, especialmente o de Lisboa, até vermos imagens arrepiantes das ruas do nosso destino completamente vazias. Ficaram estadias em hotéis por preencher, refeições em restaurantes por desfrutar, espetáculos e concertos por vivenciar e histórias por contar. O Turismo, naturalmente presente no ADN de Lisboa, sofreu imensos golpes provenientes de várias frentes e as perdas foram irrecuperáveis.

No entanto, agora a história é outra – tem de ser outra. A recuperação da economia, e em especial do setor, está nas mãos dos vários agentes e também do Governo, pois nesta luta todos têm o seu papel no incentivo ao Turismo. Ao longo destes quase dois anos, são feitas previsões sobre quando será o ponto de viragem. No meio de tantas estatísticas e fórmulas matemáticas, parece-me que o mais correto é dizer que este momento-chave não está no futuro, mas sim no presente.

Basta-nos olhar para os números e perceber que os sinais de revigoração do turismo ainda são lentos. Em Lisboa, no final de setembro, já com a grande maioria dos hotéis reabertos, ainda tivemos indicadores inferiores a 2020. No período de janeiro a setembro, a nossa ocupação foi inferior em cerca de 19% relativamente a 2020 e em cerca de 65% relativamente a 2019. A mesma tendência se verificou relativamente aos indicadores económicos – Preço Médio e RevPar. No entanto, é preciso ter em conta que os primeiros meses de 2020 foram ainda pré-pandemia e, em relação ao verão de 2021, que se nota uma melhora de mês para mês.

É certo que o posicionamento da marca Lisboa nunca foi afetado, que o desejo de viajar se mantém e que, com o levantamento progressivo das restrições, a recuperação do turismo vai progredindo positivamente.

Mas isto não chega. Recuperar e voltar a liderar não tem um significado tão lato quanto o de voltar a ter a ocupação que existia no período pré-pandemia. O desafio não se cinge a recuperar o Turismo em Lisboa até aos níveis de 2019, pois temos agora desafios que antes não tínhamos e continua a ser necessário alcançar metas que, mesmo antes, ainda não tinham sido conquistadas.

Falo, por um lado, da necessidade de gerar rendimentos que limpem o rasto deixado pela pandemia e da dificuldade em recuperar a mão de-obra, tão necessária para o setor funcionar com o profissionalismo e qualidade habitual, que migrou para outras atividades.

E por outro, da questão estruturante que continuamos por resolver: a aeroportuária. Importa destacar que 90% dos visitantes de Lisboa acedem ao destino por via aérea, e que, sabendo da importância que o turismo tem para a economia nacional, é do interesse público um novo aeroporto. Só assim, existem condições para o Turismo crescer significativamente, acima dos valores já atingidos no período pré pandemia.

Sabendo que Lisboa nunca cruzou os braços, agora também não será diferente. E mais do que ter esperança, acredito que será um destino que voltará a colocar o país sob a luz dos holofotes que nos conduzem para fora deste tempo que o turismo não terá, certamente, saudades.

Vítor Costa
Presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa (ERT-RL)

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