Que o turismo é particularmente importante para a recuperação económica nacional, já não é novidade. Este é, de facto, o único setor que nos pode ajudar a sair da crise no curto prazo.
Engane-se quem perspetiva uma redução da procura turística para os próximos anos. Esse foi aliás o erro de muitos que vaticinaram o mesmo em crises anteriores, como em 2008 com a crise mundial do subprime. A título de exemplo, entre 2009 e 2019, as chegadas de turistas internacionais aumentaram 64%, passando de 892 milhões para 1.461 milhões.
Não se iluda igualmente quem considera que sermos o 12.º país mais competitivo do mundo em Turismo é sinal de subdesenvolvimento. O Turismo é um dos 5 maiores setores económicos à escala global, sendo que todos os países que estão à nossa frente no ranking de competitividade do turismo do Fórum Económico Mundial, estão todos no top dos rankings da Competitividade Global e do índice de Desenvolvimento Humano.
Como a última crise deixou bem claro, o Turismo é em Portugal o único setor com dimensão e competitividade internacional para nos fazer sair de contextos mais adversos e, como tal, também desta crise. Infelizmente, não existe outro setor em Portugal com igual expressão ao nível dos principais indicadores económicos ou que, no curto/médio prazo, possa vir a revelar essa capacidade.
Se analisarmos os dados do Banco de Portugal quanto ao contributo dos setores Exportadores de Bens para a nossa Balança Comercial Externa, verificamos que os seis setores com maior valor de exportação são deficitários na relação entre o que importam e o que exportam.
Em 2019, o saldo da balança de bens gerou um valor negativo superior a 16 mil milhões de euros, que apenas foi compensado pelos serviços, com o especial contributo do Turismo. Aliás, nos últimos 25 anos o saldo da nossa balança apenas foi positivo quando o Turismo, em 2012, passou a ter maior expressão em todo o território português. A partir de 2012 – e até março de 2020 -, o Turismo e as viagens foram os principais fatores a contribuir para o equilíbrio do saldo da balança comercial nacional, atingindo níveis nunca antes alcançados, e fazendo com que, pela primeira vez, Portugal registasse saldo positivo.
Os números mais recentes testemunham a forma como tem sido a grande alavanca do nosso país nos últimos anos. Ora vejamos, em 2019:
- o Turismo contribuiu com 18,4 mil milhões de receitas internacionais;
- Foi responsável por 20% das exportações de bens e serviços;
- O consumo turístico foi responsável por cerca de 15% do PIB;
- Gerou mais de 400 mil empregos.
E importa recordar que uma das regiões que mais contribuiu para o desenvolvimento económico do país foi o Algarve, região que, desde 2010, esteve entre os 20 principais destinos turísticos da Europa. Em 2019, esta região representava cerca de 30% do total das dormidas a nível nacional e atingiu mais de 900 milhões de euros. E isto só em proveitos do alojamento classificado.
O Algarve é – e todos os dias trabalhamos para que continue a ser – o principal destino turístico do país. Como tal, é também uma das regiões do país mais afetada pelos efeitos da pandemia, do ponto de vista social e económico, considerando que a atividade turística está associada – e é acompanhada – por uma grande heterogeneidade de outras atividades económicas.
Sendo a região turística mais internacional do país e também o principal destino para muitos portugueses, o Algarve requer um conjunto de medidas que acelerem a recuperação do Turismo, um setor do qual está fortemente dependente e que está a mudar a sua morfologia em resultado do impacto assimétrico da pandemia nos diferentes segmentos.
Um relatório divulgado recentemente pela McKinsey (https://www.mckinsey.com/featured-insights/europe/travel-recovery-in-portugal/pt-PT) refere que alguns dos segmentos do Turismo português poderão levar a uma recuperação mais lenta, como é o caso do setor do MICE, não obstante os mais recentes e animadores sinais da procura por congressos, eventos e incentivos na região.
A aposta passa, assim, por olhar para as principais tendências que foram aceleradas pela pandemia e jogar com os ativos que a região tem.
No Algarve, a nossa estratégia conjuga os ativos que nos diferenciam (clima e luz; natureza e biodiversidade; água; história e cultura; mar), com os que nos qualificam (gastronomia e vinhos; eventos artístico-culturais, desportivos e de negócios) e os que são emergentes (como o bem-estar; living – viver em Portugal), com aqueles que são o nosso ativo único e transversal a todos – as pessoas. Os que cá vivem hoje e viverão amanhã, como os que nos visitam no presente e os que chegarão até nós no futuro.
Somos uma região turística competitiva, reconhecida pela qualidade da sua oferta e assente num desenvolvimento sustentável.
Em linha com as principais tendências e com olho para os novos segmentos – que são resultado da pandemia – também nós nos reinventamos e temos presente um conjunto de produtos diversificados, que se distinguem pela sua identidade e que apostam na sustentabilidade e na inovação e na transição digital.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de capitalizar todos os nossos recursos para promover aquele que é o nosso principal motor de desenvolvimento económico: o Turismo.
E é neste quadro que o Turismo do Algarve tem vindo a colaborar, de perto e ativamente, com o tecido empresarial da região, com os órgãos da administração central, regional e local e demais entidades, de forma a materializar a visão que preconizamos para o Algarve: alavancar a atratividade e a competitividade do destino, através do reconhecimento internacional pela qualidade de vida e identidade da região; dispor de atores capacitados para fazer face aos novos desafios, por via de escolhas sustentáveis, e ser uma região cada vez mais inteligente e conectada, mais verde e mais próxima das pessoas.
A recuperação do nosso país, e da nossa região, está diretamente dependente deste setor. É, por isso, necessário repensar e encontrar novas oportunidades de reimaginar o Turismo.
João Fernandes
Presidente Região Turismo do Algarve